Foto: Igor Baliberdin, 2024
O que aconteceu com a sensibilidade do designer?
Muito me entristece ver soluções para serviços financeiros terem a mesma cara, para healthcare, para esportes, tecnologia, enfim, para tudo.
Será que estamos fazendo as perguntas certas para os usuários?
E para o business, será que eles estão demandando os problemas corretos? estão propondo design ou tik tok?
Se der uma passada rápida em todo tipo de plataforma que hospedam portfolios de desgners, a coisa que mais verão é a mesma solução para tudo. Todos os aplicativos para banco tem a mesma cara e com os elementos dipostos nos mesmos lugares. Todas as plataformas XYZ tem a mesma estrutura de navegação, os mesmos problemas de usabilidade, inclusive.
Cadê a nossa criatividade? O que não estamos fazendo? Estamos técnicos demais? Sabemos o que o mercado demanda de nossas carreiras? Estamos nas carreiras certas? Escutamos as pessoas, digo, os usuários e quem nos contrata? Por que entregamos as mesmas coisas independente do que estamos trabalhando e oferecendo ao mercado?
Hipótese #1: Pouco experimentação tipográfica
Foto: plaindesign.com
David Carson e a "destruição dos fundamentos e regras" do design gráfico
Nos idos de 2000, parece perto mas tem 24 anos, eu enquanto estudante de design, sempre me fascinava ao ver os trabalhos com tipografia do David Carson. Ele foi o cara que trouxe um ar fresco para editoriais e outras questões do mercado gráfico. Criou trabalhos para revistas de surf, skateboard, para a MTV e tantas outras marcas... Segundo alguns críticos na década de 1990, os trabalhos de Carson estavam destruindo as leis e os fundamentos do design gráfico, o que eu descordo totalmente, mas isso se deu por conta da maneira como se relacionava com os tipos e planos. O trabalho de Carson desafiou os critérios fundamentais de legibilidade, explorando elementos como leitura reversa, justificação extremamente forçada e estilos artísticos de colagem, e isso parece estar sendo esquecido pelas gerações atuais de designers.
“Just because something’s legible doesn’t mean it communicates the right thing. What is the message sent before somebody actually gets into the material?”- David Carson
O criador de uma das fonts mais utilizadas nos dias de hoje e que trouxe o acabemento estético de produtos da Apple, sabia como ninguém que nem sempre o que se é posto é o que é lido. E isso é sobre a pasteurização do que vemos nos dias de hoje: produtos digitais que além de não solucionar problemas reais, não comunicam de forma efetiva.
Hipótese #2: Design ou Tik Tok?
Como disse Bruno Munari: "o designer é um planejador com senso estético", sem isso temos apenas fazedores de tela. Isso me faz lembrar da faculdade novamente e um dos professores que eu sempre tive como referência, uma vez nos disse: "se querem ser bons designers, parem de ler sobre design e vão ler sobre filosofia, psicologia, ciência, o que quer que seja, só não sejam monótonos". O design precisa buscar soluções na vida real. Não conheço nenhum empresário que goste de falar de design, primeiro por que não sabem o que é isso e segundo por que não querem perder tempo falando disso, eles querem saber somente o quanto isso faz de lucro.
Já pensou que enriquecedor seria poder bater um papo com um CEO ao invés de navegar pelo Behance? Eu gosto do Behance, mas não é lá que você vai achar uma solução para o seu design... no meu caso eu gosto muito de pensar sobre problemas durante uma sessão de cinema. Muitas propostas boas sairam de sessões de filmes que, nem sempre foram bons e tudo bem. A ideia está muito mais na abertura pro novo do que necessariamente o novo em si.
Devemos parar de buscar soluções nas mesmas fontes.
Como querer um resultado de diferente se passamos os dias fazendo as mesmas coisas? Só se já nos autodeclaramos loucos.
Hipótese #3: Design não é só técnica. O design de verdade acontece dentro de nossas cabeças.
Marcel Duchamp
O ready-made é proveniente do contexto da arte dadaista, da qual Duchamp era entusiasta e, apesar de a intenção do artista ser evidenciar o objeto escolhido, o que passou a ser considerado o ready-made foi mais o gesto do que o resultado. Marcel Duchamp dizia que "o artista realiza apenas uma parte do processo criativo. O espectador completa, e é o espectador que tem a última palavra".
E esse processo não seria diferente no design. Não podemos esperar que vamos atender todas as demandas dos nossos usuários, sejam eles os usuários finais ou empresas. O processo acontece quando compartilhamos e damos espaços para que estes atores possam concluir e descobrir novas maneiras de usar o que estamos propondo.
Lembrando que todo usuário quer se sentir parte desse processo de criação. Neste caso, descobrir que os usuários conseguiram solucionar suas dores através dos produtos e funcionalidades que criamos, mesmo de uma maneira diferente da pensada por nós, também é um ganho enorme e desingessa nosso trabalho. Não temos controle sobre tudo e tudo bem.
No fim do dia, a estória é a seguinte...
Design de verdade não segue fórmulas pré-formatadas;
Ninguém se importa com o processo, isso é individual e intransferível;
O design deve resolver problemas e entregar resultados;
Nenhum CEO quer discutir alinhamento e cor, mesmo que acabem nessa vala comum;
Se quer destaque, pare de seguir a boiada. Lembre-se da sua mãe que se cansou de dizer: "você não é todo mundo"
Por mais que você ame o que faz, não esqueça do usuário final. É para resolver problemas deles e do negócio, que te contrataram.
Estude todos os dias e vá ao cinema, leia mais, leia de tudo.
Não existe ninguém que saia do zero e chegue a senior em 2 semanas. Parem de querer ser imediatista. As coisas realmente boas, os produtos realmente bons levaram tempo até serem lançados, precisamos conviver com isso.
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